sábado, 15 de outubro de 2016

Teatro Barroco

O Barroco foi um movimento cultural e filosófico da história da cultura ocidental que teve início em Itália e decorreu, aproximadamente, entremeado do século XVI e meados do século XVIII.

Assiste-se neste movimento à exaltação dos sentimentos e da religiosidade expressos de forma intensa, dramática e emocional. O teatro barroco que inicialmente não foi um estilo voltado ao cristianismo, como por exemplo, algumas pinturas; logo reagiu contra o materialismo renascentista e a Reforma protestante. Refletindo o espírito da época: atormentado, tenso e pessimista. Ademais, no terreno narrativo, os novelistas preocupavam-se em revelar a sociedade de forma mais realista e sempre crítica com uma linguagem, sóbria em princípio, tornando-se depois muito rebuscada.

Na Espanha o modelo teatral barroco surgiu, em 1625, com Calderon de  la Barca, que foi nomeado dramaturgo oficial da corte, onde desenvolveu uma vasta obra e diversos gêneros teatrais, entre os quais  as zarzuelas. Além disso, o modelo também teve apoio na França, com Luís XIV instituindo um regime de apoio financeiro aos artistas( destacando-se na dramaturgia Corneille, Racine e Molière, que são uma referência universal ), tendo prestigiado as artes, entre as quais o teatro.

As salas de espetáculo inserem-se no estilo designado por teatro à italiana, e possuíam uma maquinaria  que permitia realizar espetáculos complexos e de grande exigência técnica. As salas eram construídas em forma de ferradura e orientavam-se perpendicularmente ao palco. O público assistia sentado na plateia e também em camarotes e frisas que circundavam a cena. E geralmente nas cúpulas das salas podiam apreciar-se pinturas de artistas reconhecidos.

Já o Brasil tem as suas primeiras manifestações teatrais importantes na transição do maneirismo para o barroco, e foram realizadas em âmbito religioso, como parte da obra missionária de catequização do gentio, destacando-se principalmente a figura do Padre José de Anchieta escritor de criativas peças teatrais, encenadas pelos índios a fim de que compreendessem o catolicismo, que tinham como característica o sincretismo, com personagens retirados de vários períodos históricos e misturados a figuras lendárias.

No século XVII a forma do teatro sacro se desenvolve, e se enriquecem os cenários e acessórios cênicos, e o público-alvo já não é primariamente o índio, mas toda a população. No entanto ainda não havia teatros, então o local para as apresentações era ao ar livre, que contava com a viva participação popular. Com o tempo o teatro profano erudito começou a aparecer com a construção no século XVIII de diversas casas de espetáculo pelo litoral e em alguns centros interioranos como Ouro Preto e Mariana, que serviam principalmente à representação de peças musicadas, as óperas, melodramas e comédias, e surgiu também o desejo de profissionalização do teatro brasileiro, até então de base amadora e popular, e os tablados itinerantes deram lugar ao auditório fixo. Com seu repertório basicamente importado da Europa.

Portanto a herança cênica do barroco perdura até os dias de hoje em expressões populares sincréticas de longa e rica tradição que sobrevivem em diversos pontos do país, como as ladainhas, os congados, os ternos de Reis, e mesmo é visível no moderno carnaval carioca, uma festa associada ao calendário religioso e uma das expressões populares contemporâneas que atualizam a cenografia luxuriante do auge do teatro e das festas barrocas.

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         Casa de Ópera de Ouro Preto, de 1770, mais antigo teatro das Américas ainda em uso.

      
       Auto Representado na Festa de São Lourenço


 Uma das peças mais famosas do Padre José de Anchieta é o Auto Representado na Festa de São Lourenço, que conta uma história em torno do martírio do santo e ocorrem diversas coisas no desenrolar do texto, com seus personagens tirados de diferentes épocas, mas por fim acontece o enterro do santo, que lutou contra vários demônios para defender a aldeia em que era padroeiro. Essa peça é composta com variações linguísticas, “Línguas Tupi, Portuguesa, Castelhana” e isso teria aparentemente dois propósitos: o primeiro seria atender aos espectadores, pois nas festas religiosas nos aldeamentos, além da presença dos moradores locais, padres, índios cristãos, catecúmenos ou prisioneiros, que falavam a língua geral, contava-se ainda com a presença de religiosos recém-chegados, homens do governo, viajantes e militares, que eram portugueses ou espanhóis e não conheciam o tupi. No período que essa representação foi realizada havia a união das Coroas da Península Ibérica e o governo do Brasil estava a cargo de Felipe II da Espanha. O outro propósito, que era típico do teatro de moralidades e muito usado por Gil Vicente, seria usar variações linguísticas para caracterizar as personagens que desse modo criticavam um universo cultural ou outro. Aimbirê, personagem central da peça, fala a língua geral com seus companheiros índios ou com o Karaibebé, personagem do Bem, mas em outro momento da peça, quando dialoga com os Imperadores Décio e Valeriano, imperadores romanos,  fala em castelhano e, até, pelo menos uma frase em guarani. O texto em língua brasílica constituiria a parte principal do Auto e percebe-se, nele, a marca da pedagogia de Anchieta, visando, com a utilização de aspectos da cultura indígena, ao ensino da fé e da moral cristã. Além disso, essa peça é carregada de significados, e apresenta uma pluralidade linguística que permitiu Anchieta escolher a língua a ser falada por que tipo personagem, e também um sincretismo cultural, que é um recurso de manipulação utilizado. Então como a peça é muito extensa deixarei só o primeiro ato, que fala sobre o martírio de São Lourenço, que é o começo de todo o enredo, mas abaixo colocarei o link para os que quiserem ler todo texto.

PRIMEIRO ATO (Cena do martírio de São Lourenço) Cantam:

Por Jesus, meu salvador,
Que morre por meus pecados,
Nestas brasas morro assado 
Com fogo do meu amor 

Bom Jesus, quando te vejo
Na cruz, por mim flagelado,
Eu por ti vivo e queimado 
Mil vezes morrer desejo

Pois teu sangue redentor 
Lavou minha culpa humana,
Arda eu pois nesta chama 
Com fogo do teu amor.

O fogo do forte amor, 
Ah, meu Deus!, com que me amas
Mais me consome que as chamas
E brasas, com seu calor.

Pois teu amor, pelo meu 
Tais prodígios consumou, 
Que eu, nas brasas onde estou,
Morro de amor pelo teu. 

http://www.numeroreal.com.br/down_livros/Jose%20de%20Anchieta%20%20-%20Auto%20Representado%20na%20Festa%20de%20Sao%20Lourenco.pdf


Fontes:
http://max-barroco.blogspot.com.br/2009/11/teatro.html
http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/teatro/backstage.php?s=21&id=18
http://barrocobrasileiro002.blogspot.com.br/2011/04/teatro.html
http://www.hispanista.com.br/artigos%20autores%20e%20pdfs/523.pdf
https://literarizando.wordpress.com/2009/04/15/anchieta-e-o-auto-de-sao-lourenco-literatura-a-servico-da-religiao/


Giacomo Torelli: Cenário para Andromède, de Corneille, 1650. Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque

Karel Dujardins: Uma companhia de Commédia dell'Arte em um palco ao ar livre, 1657. Museu do Louvre
O Curral de Comédias em Almagro, um típico teatro espanhol do século XVII, em uso ininterrupto desde então
Pietro Domenico Oliviero: O Teatro Régio de Turim, c. 1750, mostrando uma apresentação operística. Palazzo Madama

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