domingo, 20 de novembro de 2016

Questões sobre o Arcadismo

1)(ENEM)
Casa dos Contos


& em cada conto te cont
o & em cada enquanto me enca
nto & em cada arco te a
barco & em cada porta m
e perco & em cada lanço t
e alcanço & em cada escad
a me escapo & em cada pe
dra te prendo & em cada g
rade me escravo & em ca
da sótão te sonho & em cada
esconso me affonso & em
cada claúdio te canto & e
m cada fosso me enforco &

(ÁVILA, A. Discurso da difamação do poeta. São Paulo: Summus, 1978).

O contexto histórico e literário do período barroco- árcade fundamenta o poema Casa dos Contos, de 1975. A restauração de elementos daquele contexto por uma poética contemporânea revela que
(A) a disposição visual do poema reflete sua dimensão plástica, que prevalece sobre a observação da realidade social.
(B) a reflexão do eu lírico privilegia a memória e resgata, em fragmentos, fatos e personalidades da Inconfidência Mineira.
(C) a palavra “esconso” (escondido) demonstra o desencanto do poeta com a utopia e sua opção por uma linguagem erudita.
(D) o eu lírico pretende revitalizar os contrastes barrocos, gerando uma continuidade de procedimentos estéticos e literários.
(E) o eu lírico recria, em seu momento histórico, numa linguagem de ruptura, o ambiente de opressão vivido pelos inconfidentes.
Gabarito oficial: E

Questão comentada por:  João Vitor
Para resolver esta questão é necessário ter conhecimentos históricos sobre o Arcadismo, inicialmente o título: “Casa dos Contos” se refere a um dos prédios do sistema de museu de Ouro Preto, que em 1789, passou a ser Sede da Administração e Contabilidade Pública da Capitania de Minas Gerais (daí ser  chamada Casa dos Contos) e serviu de prisão aos  Inconfidentes (entre eles, Tomás Antônio Gonzaga e  Claudio Manoel da  Costa). Para responder a questão de maneira correta deve – se perceber referências como: “… em cada  porta…”, “… em  cada arco…”, “… em cada  porta”…, “… em cada fosso…”, “… em cada Claudio…”, “... em cada grade me escravo...”; em que o eu lírico tenta representar um ambiente ruim similar a uma prisão que associado ao título e seu contexto histórico chega - se a conclusão que a resposta é a letra E. Outra característica é uma possível menção a Claudio Manoel da Costa.

Link acessado:


http://www.estudavest.com.br/questoes/?resolver=&prova=&q=&inicio=2&instituicao=&ano=&cat=12&subcat=318&dificuldade=&q=

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga

Cartas Chilenas é um conjunto de poemas, escritos em versos decassílabos e brancos, com uma metrificação parecida com a da epopéia, e circularam anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788, seus versos assumem um tom satírico.
É uma obra satírica, constituindo poema truncado e inacabado (13 cartas), na qual um morador de Vila Rica ataca a corrupção do Governador Luís da Cunha Menezes. Aponta as irregularidades de seu governo, configurando o ambiente de Vila Rica ao tempo da preparação política da Inconfidência Mineira. Em julho deste ano de 1878, Cunha Menezes deixaria o governo de Minas, em favor do Visconde de Barbacena.
Onde se deveria ler Portugal, Lisboa, Coimbra, Minas e Vila Rica, lê-se Espanha, Madrid, Salamanca, Chile e Santiago. Os nomes aparecem quase sempre deformados: Menezes é Minésio. Há apelidos e topônimos inalterados, como: Macedo, a ermida do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, a igreja do Pilar. O autor se dá o nome de Critilo e chama o destinatário de Doroteu. Finalmente, os fatos aludidos são facilmente identificados pelos leitores contemporâneos.
A matéria é toda referente à tirania e ao abuso de poder do Governador Fanfarrão Minésio, versando a sua falta de decoro, venalidade, prepotência e, sobretudo, desrespeito à lei. Afirmam alguns que o poema circulava largamente em Vila Rica em cópias manuscritas.
Critilo (Tomás Antônio Gonzaga) aplica-se de tal modo na sátira, que a beleza mal o preocupa. Os versos brancos concentram-se no ataque. Sente-se um poeta capaz de escrever no tom familiar que caracteriza o realismo dos neoclássicos, com certa inclinação para a pintura da vida doméstica.
Para Critilo, o arbitrário Governador constituía, de certo modo, atentado ao equilíbrio natural da sociedade.
Entretanto, não se nota nas Cartas nenhuma rebeldia contra os alicerces do sistema colonial, nem mesmo uma revolta contra o colonizador; apenas se critica a má administração do governador Cunha Menezes. Seu significado político, todavia, permanece. Literariamente, é a obra satírica mais importante do século XVIII brasileiro e continua sendo o índice de uma época.
Sendo anônimo o poema e tendo permanecido inédito até 1845, houve dúvida quanto à sua autoria, embora a tradição mais antiga apontasse Gonzaga sem hesitação. Falou-se depois em Cláudio, em Alvarenga Peixoto, em colaboração etc. Estudos empreendidos neste século, culminando pelos de Rodrigues Lapa, vieram dar prati­camente a certeza da atribuição a Gonzaga.
É tida como uma das mais curiosas sátiras de todos os tempos em Literatura Brasileira (junto com Antônio Chimango). Quem assina essas cartas é um certo Critilo, que escreve a um amigo, Doroteu. O contexto também era diverso, já que o clima de opressão e a tensão política deveriam se asilar no apócrifo.
As Cartas têm em Cunha Menezes (no texto, batizado com o singelo nome de Fanfarrão Minésio) o seu protagonista. Além do viés satírico, a obra constitui um interessante quadro dos costumes daquela época e um registro precioso do que era a corrupção no Brasil já desde os tempos da Colônia. Critilo, por sua vez, escreve do Chile.

Carta 1ª (fragmentos)
Não cuides, Doroteu, que vou contar-te
por verdadeira história uma novela
da classe das patranhas, que nos contam
verbosos navegantes, que já deram
ao globo deste mundo volta inteira.
Uma velha madrasta me persiga,
uma mulher zelosa me atormente
e tenha um bando de gatunos filhos,
que um chavo não me deixem, se este chefe
não fez ainda mais do que eu refiro.
..........................................................................
Tem pesado semblante, a cor é baça,
o corpo de estatura um tanto esbelta,
feições compridas e olhadura feia;
tem grossas sobrancelhas, testa curta,
nariz direito e grande, fala pouco
em rouco, baixo som de mau falsete;
sem ser velho, já tem cabelo ruço,
e cobre este defeito e fria calva
à força de polvilho que lhe deita.
Ainda me parece que o estou vendo
no gordo rocinante escarranchado,
as longas calças pelo embigo atadas,
amarelo colete, e sobre tudo
vestida uma vermelha e justa farda.

Deixarei o link abaixo para os interessados em lerem mais: 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000293.pdf

Fonte:

http://www.passeiweb.com/estudos/livros/cartas_chilenas

domingo, 13 de novembro de 2016

A Uma Senhora Que O Autor Conheceu No Rio De Janeiro Viu Depois Na Europa - José Basílio da Gama


Na idade em que eu brincando entre os pastores
Andava pela mão e mal andava,
Uma ninfa comigo então brincava
Da mesma idade e bela como as flores.

Eu com vê-la sentia mil ardores.
Ella punha-se a olhar e não falava ;
Qualquer de nós podia ver que amava,
Mas quem sabia ento que eram amores ?

Mudar de sitio à ninfa já convinha,
Foi-se a outra ribeira; e eu naquela
Fiquei sentindo a dor que n'alma tinha.

Eu cada vez mais firme, ela mais bela;
Não se lembra ela já de que foi minha,
Eu ainda me lembro que sou dela !...

Extraído de SONETOS BRASILEIROS Século XVII – XX. Coletânea Organizado por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cie., 1913. 

Análise: Há no texto algumas características como hipérbole, comparação, influência mitológica e, além disso, há algumas características marcantes do Arcadismo. A hipérbole se dá quando o eu lírico diz: “Eu com vê-la sentia mil ardores”, que se encontra presente no quinto verso. A comparação está no quarto verso quando o eu lírico diz ''Da mesma idade e bela como as flores'', já a influência mitológica se encontra quando o eu lírico menciona sobre a ninfa, mas também quando se fala sobre a ninfa é possível encontrar uma característica do Arcadismo que é a exaltação da amada. Também apresenta o Inutilia Truncat, que diz respeito à retirada de excessos da escrita; o Locus amoenus, que é a fuga geralmente para o campo possivelmente interpretável quando o eu lírico diz: “Mudar de sitio”, presente no nono verso e tambem há o Carpe diem, quando o eu lírico tentou passar uma mensagem no último parágrafo que queria ter aproveitado o amor, mas agora ele fica triste por ela se mudar dali. Uma curiosidade é que o texto acima é chamado de soneto italiano ou petrarquiano, que apresenta dois quartetos e dois tercetos, sendo assim o inverso da forma de soneto geralmente conhecida.

Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Soneto
http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/
http://arcadismo05.blogspot.com.br/p/poesias.html
http://www.poemhunter.com/poem/a-uma-senhora-que-o-autor-conheceu-no-rio-de-jane-ro-viu-depo-s-na-europa/
http://arcadismobasiliodagama.blogspot.com.br/2010/09/poemas-de-basilio-da-gama.html



O Caramuru, canto VI - Morte de Moema - Frei José de Santa Rita Durão

Canto VI
XXXVII
Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.

XXXVIII
"- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem.
Como não consumis aquele infame?
Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco?

(...)
XLI
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas!
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas! 
Dispara sobre mim teu cruel raio..."
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.

XLII
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme, 
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.


Análise: O poema “O Caramuru” escrito por Frei José de Santa Rita Durão, um dos principais representantes da literatura Árcade, narra em dez cantos, o naufrágio de Diogo Álvares Correia e seus amores com as índias, sobretudo com Paraguaçu. O material é amplo e apresenta uma exaltação a paisagem brasileira, fatos de nossa história, o temperamento dos indígenas, lendas,  e etc. No trecho acima, está sendo retratado a morte de Moema ( índia amante de Diogo ), que foi abandonada por seu amor, que partia para Europa com Paraguaçu, então,ela vendo aquilo atira-se ao mar, perseguindo o navio em que Diogo viajava, até a morte. Além desse momento bem marcante e forte do poema “O Caramuru “, estão presentes vários outros aspectos , como a expressão  “o bom selvagem”, do filósofo Jean-Jacques Rousseau, que  denota a pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca pela vida simples, bucólica e pastoril, o nativismo que faz muita referência à terra, e o ufanismo, que é a "atitude ou sentimento de quem se vangloria exageradamente das belezas, riquezas e vantagens do Brasil" e isto é bem marcante no poema, pois o autor exalta mesmo a terra, como podemos ver claramente nesse outro trecho do poema:

Canto VIII - XXI 

Vi, nao sei se era impulso imaginário, 
Um globo de diamante claro e imenso 
E nos seus fundos figurar-se vário 
Um país opulento, rico e extenso; 
E, aplicando o cuidado necessário, 
Em nada do meu próprio o diferenço: 
Era o áureo Brasil tão vasto e fundo, 
Que parecia no diamante um mundo.


Ademais,o poema “O Caramuru” apresenta o Inutilia Truncat, que diz respeito à retirada de excessos da escrita; o Fugere Urbem, que é a fuga da cidade para um cenário na maioria das vezes campestre, mas que porém no poema “O Caramuru” ocorre para um ambiente indígena. Além disso, o carpe diem também é encontrado no poema, através da simplicidade indígena, pois procurava-se viver de forma mais simples. Já o Locus amoenus, no caso de “O Caramuru”, pode ser o refúgio no Brasil recém descoberto.

Portanto "O Caramuru", é uma obra riquíssima em vários aspectos, e difícil de ser analisada apenas com esses trechos, então, deixo abaixo o link para quem tiver o interesse de lê-la de forma mais ampla:


Fontes:

http://letrabydani.blogspot.com.br/2013/11/paes-2013-caramuru-analise-literaria_977.html
http://www.poetaslivres.com.br/literatura/portuguesa/arcadismo.html

http://vanessarabeloblog.blogspot.com.br/2013/09/caramuru-e-arcadismo.html

sábado, 12 de novembro de 2016

Frei José de Santa Rita Durão (1722-1784)


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Frei José de Santa Rita Durão nasceu nas proximidades de Mariana, Minas Gerais. Estudou com os jesuítas no Rio de Janeiro e doutorou-se em Filosofia e Teologia por Coimbra. Entrou na ordem de Santo Agostinho, mas durante a repressão do período pombalino, fugiu para a Itália, onde levou uma vida de estudos, durante mais de 20 anos.

Depois de viver também na Espanha e na França, voltou a Portugal com a "viradeira", como ficou conhecida a queda do Marquês de Pombal e a restauração da monarquia tradicional. Ocupou uma cátedra de Teologia em Coimbra, quando se dedicou a escrever o poema épico "Caramuru", publicado em 1781. Conta-se que a obra teria sido recebida com indiferença e que isso fez Durão destruir várias poesias líricas suas.

A manifestação poética de Santa Rita Durão expressa o nativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira, dos seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas tradições. Durão faz referências a fatos históricos, do século 16 até sua época. Apesar do retrocesso ao tipo de crônica informativa dos anos 1600, seu texto pertence à corrente literária do Arcadismo e valoriza a vida natural e simples, distante da corrupção.

Os poetas árcades, angustiados com os problemas urbanos e o progresso científico, propõem a volta à simplicidade da vida no campo e o aproveitamento do momento presente. Embora morem em cidades, fazem versos sobre paisagens bucólicas de outras épocas. Lançam mão de verdadeiros fingimentos poéticos, usando pseudônimos gregos e latinos, imaginando-se pastores e pastoras amorosos, numa vida saudável idealizada, sem luxo e em pleno contato com a natureza.

O Arcadismo no Brasil é diferente do europeu. Em primeiro lugar, usa a paisagem mineira como cenário bucólico, valoriza as coisas da terra, revelando um forte sentimento nativista. A presença do índio na poesia reflete o ideal do "bom selvagem iluminista", que não existe nos poemas europeus. Outra característica é a sátira política à opressão portuguesa e da corrupção colonial.

Durão também integra esse movimento cultural contra a colonização. "O Caramuru" faz um balanço da colonização em meio a uma descrição hiperbólica da natureza. Neste poema são exaltadas a fé e a defesa da terra contra os invasores. Segundo o crítico Antonio Candido, "A obra de Durão pode ser vista tanto como expressão do triunfo português na América quanto das posições particularistas dos americanos; e serviria, em princípio, seja para simbolizar a lusitanização do país, seja para acentuar o nativismo."

A estrutura do poema segue o modelo de Camões, formado por dez cantos de versos decassílabos dispostos em estrofes fixas, as oitavas, com esquema de rimas abababcc. Mas, como era de se esperar para um membro do clero, o conservadorismo cristão substituiu a mitologia pagã, uma característica épica.

"Caramuru" tem como subtítulo "Poema Épico do Descobrimento da Bahia" e conta as aventuras de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Entre outras personagens do poema estão Paraguaçu (com quem Diogo se casou na França) e Moema (rival de Paraguaçu, que morreu afogada quando perseguia o navio que levava o casal para a França).


Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/jose-de-santa-rita-durao.htm 
Frei caracteriza-se em sua obra por ser o primeiro a abordar o habitante nativo do Brasil, também por apresentar uma descrição detalhada dos primórdios da colonização do Brasil, relatos de cenas de guerras entre as nações indígenas, de dados sobre a fauna, a flora, a paisagem brasileira, os costumes e tradições indígenas e, por fim, sobre os acontecimentos históricos em relação queima de gordura à formação do Brasil, os quais podem ser citados, as Invasões francesas e Holandesas e a divisão dos países em capitanias. A narrativa épica deste notável escritor mineiro destaca-se a exaltação das terras brasileiras, descrita de forma maravilhosa e curiosa, dessa forma, apresenta-se o ufanismo, isto é, "atitude ou sentimento de quem se vangloria exageradamente das belezas, riquezas e vantagens do Brasil".
Frei caracteriza-se em sua obra por ser o primeiro a abordar o habitante nativo do Brasil, também por apresentar uma descrição detalhada dos primórdios da colonização do Brasil, relatos de cenas de guerras entre as nações indígenas, de dados sobre a fauna, a flora, a paisagem brasileira, os costumes e tradições indígenas e, por fim, sobre os acontecimentos históricos em relação queima de gordura à formação do Brasil, os quais podem ser citados, as Invasões francesas e Holandesas e a divisão dos países em capitanias. A narrativa épica deste notável escritor mineiro destaca-se a exaltação das terras brasileiras, descrita de forma maravilhosa e curiosa, dessa forma, apresenta-se o ufanismo, isto é, "atitude ou sentimento de quem se vangloria exageradamente das belezas, riquezas e vantagens do Brasil".
O Frei caracteriza-se em sua obra por ser o primeiro a abordar o habitante nativo do Brasil, também por apresentar uma descrição detalhada dos primórdios da colonização do Brasil, relatos de cenas de guerras entre as nações indígenas, de dados sobre a fauna, a flora, a paisagem brasileira, os costumes e tradições indígenas e, por fim, sobre os acontecimentos históricos em queima de gordura relação à formação do Brasil, os quais podem ser citados, as Invasões francesas e Holandesas e a divisão dos países em capitanias. A narrativa épica deste notável escritor mineiro destaca-se a exaltação das terras brasileiras, descrita de forma maravilhosa e curiosa, dessa forma, apresenta-se o ufanismo, isto é, "atitude ou sentimento de quem se vangloria exageradamente das belezas, riquezas e vantagens do Brasil".
O Frei caracteriza-se em sua obra por ser o primeiro a abordar o habitante nativo do Brasil, também por apresentar uma descrição detalhada dos primórdios da colonização do Brasil, relatos de cenas de guerras entre as nações indígenas, de dados sobre a fauna, a flora, a paisagem brasileira, os costumes e tradições indígenas e, por fim, sobre os acontecimentos históricos em queima de gordura relação à formação do Brasil, os quais podem ser citados, as Invasões francesas e Holandesas e a divisão dos países em capitanias. A narrativa épica deste notável escritor mineiro destaca-se a exaltação das terras brasileiras, descrita de forma maravilhosa e curiosa, dessa forma, apresenta-se o ufanismo, isto é, "atitude ou sentimento de quem se vangloria exageradamente das belezas, riquezas e vantagens do Brasil".

domingo, 6 de novembro de 2016

Tomás Antônio Gonzaga, Lira I

Lira I 

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte:
dos anos inda não está cortado;
os Pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste
nem canto letra, que não seja minha.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
só apreço lhes dou, gentil Pastora,
depois que o teu afeto me segura
que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
de um rebanho, que cubra monte e prado;
porém, gentil Pastora, o teu agrado
vale mais que um rebanho e mais que um trono.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!
(...)

Análise:
É a lírica amorosa mais popular da literatura de língua portuguesa. Segundo o autor do prefácio da obra (Lisboa - 1957), Rodrigues Lapa, não é a persistência dos elementos tradicionais da poesia, mais ou menos pessoalmente elaborados, que nos dão definitivamente o seu estilo. Este consiste sobretudo nas novidades sentimentais e concepcionais que trouxe para uma literatura, derrancada no esforço de remoer sem cessar a antiguidade. Um amor sincero, na idade em que o homem sente fugir-lhe o ardor da mocidade, e uma prisão injusta e brutal - foram estas duas experiências que fizeram desferir à lira de Dirceu acentos novos. Estamos ainda convencidos de que o clima americano, mais arejado e mais forte, contribuiu poderosamente para a revelação desse estilo, em que se sentem já nitidamente os primeiros rebates do romantismo e a impressão iniludível das idéias do tempo."

Na 1ª parte estão os poemas escritos na época anterior à prisão do autor. Nela predominam as composições convencionais, as características arcádicas: o pastor Dirceu celebra a beleza de Marília em pequenas odes anacreônticas. Em algumas liras, entretanto, as convenções mal disfarçam a confissão amorosa do amor: a ansiedade de um quarentão apaixonado por uma adolescente; a necessidade de mostrar que não é um qualquer e que merece sua amada; os projetos de uma sossegada vida futura, rodeado de filhos e bem cuidado por suas mulher etc. Nesta 1ª parte das liras o autor denota preferência pelo verso leve, tratado com facilidade.

Curiosidade - Tomás Antônio Gonzaga

Curiosidade: como aponta o crítico Alfredo Bosi em seu História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: Cultrix, 2006), há uma mudança na cor dos cabelos de Marília, que ora são negros, ora dourados, como se pode observar nos trechos a seguir:
Os seus compridos cabelos,
que sobre as costas odeiam,
são que os de Apolo mais belos,
mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
e com o branco do rosto
fazem, Marília, um composto
da mais formosa união.
Em outra passagem, observa-se:
Os teus olhos espelham a luz divina,
a quem a luz do sol em vão se atreve;
papoila ou rosa delicada e fina
te cobre as faces, que são da cor da neve.
Os teus cabelos sao uns fios d'ouro;
teu lindo corpo bálsamos vapora.
Essa oscilação, segundo o crítico, demonstraria o compromisso árcade entre o real e os padrões de beleza do lirismo inspirado no poeta clássico Petrarca. Outra oscilação presente nos poemas é entre o pastor bucólico e o intelectual da cidade.
Percebe-se, no entanto, uma mudança considerável no discurso do poeta, coincidindo com a época em que o autor esteve preso e passa a refletir sobre as angústias do aprisionamento, a justiça e o destino dos homens.
Cabe ressaltar, no entanto, que, embora o conjunto de liras seja dedicado à amada Marília, em momento algum temos a voz da personagem idealizada. É apenas Dirceu quem discorre acerca dos seus sentimentos. Segundo alguns críticos literários, esse fato é um reflexo da sociedade patriarcal em que Gonzaga vivia, não permitindo que suas personagens pudessem expressar suas vozes.
Por fim, Tomás Antônio Gonzaga também ficou conhecido por suas Cartas Chilenas, compostas por 13 poemas satíricos escritos antes da Inconfidência Mineira. Novamente, Gonzaga cria personagens e pseudônimos: aqui, Critilo assina as cartas e as envia para Doroteu. O conteúdo das "cartas" são críticas ao suposto governador do Chile (onde vive Critilo) Fanfarrão Minésio, uma referência ao governador de Minas Gerais Luís da Cunha Meneses. Veja um exemplo:
Amigo Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
Critilo, o teu Critilo é quem te chama;
Ergue a cabeça da engomada fronha
Acorda, se ouvir queres coisas raras.
(...)
Ah! pobre Chile, que desgraça esperas!
Quanto melhor te fora se sentisses
As pragas, que no Egito se choraram,
Do que veres que sobe ao teu governo
Carrancudo casquilho, a quem rodeiam
Os néscios, os marotos e os peraltas!
Seguido, pois, dos grandes entra o chefe
No nosso Santiago junto à noite.
A casa me recolho e cheio destas
Tristíssimas imagens, no discurso,
Mil coisas feias, sem querer, revolvo.
Por ver se a dor divirto, vou sentar-me
Na janela da sala e ao ar levanto
Os olhos já molhados. Céus, que vejo!
Não vejo estrelas que, serenas, brilhem,
Nem vejo a lua que prateia os mares:
Vejo um grande cometa, a quem os doutos
Caudato apelidaram. Este cobre
A terra toda co’ disforme rabo.

sábado, 5 de novembro de 2016

Lira XXVI de Tomás Antônio Gonzaga


O destro Cupido um dia
Extraiu mimosas cores
De frescos lírios, e rosas,
De jasmins, e de outras flores.

Com as mais delgadas penas
Usa de uma, e de outra tinta,
E nos ângulos do cobre
A quatro belezas pinta.

Por fazer pensar a todos
No seu liso centro escreve
Um letreiro, que pergunta:
"Este espaço a quem se deve?"

Vênus, que viu a pintura,
E leu a letra engenhosa,
Pôs por baixo "Eu dele cedo;
"Dê-se a Marília formosa."

Análise: Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico é Dirceu, escreveu poesias típicas do arcadismo, com temas pastoris e de galanteio. Este fragmento foi retirado da obra Marília de Dirceu, na qual as poesias ali presentes são dirigidas à amada do eu lírico, chamada Marília, e há também uma exaltação da beleza da mesma. Portanto, no presente texto pode-se observar características deste movimento literário, como o amor galante e a presença de figuras mitológicas.

Obra completa disponível em:
http://stat.correioweb.com.br/arquivos/educacao/arquivos/TomsAntnioGonzaga-MarliadeDirceu0.pdf



Tomás Antônio Gonzaga (1744 - 1810)

                                                       

Poeta árcade que viveu entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Nasceu na cidade de Porto em Portugal no ano de 1744 e veio para o Brasil em 1749, quando tinha apenas quatro anos. Anos mais tarde, o poeta retorna para Portugal para estudar Direito na Faculdade de Leis em Coimbra, cidade onde exerce cargos de magistratura. Intentando uma cátedra na Universidade de Coimbra, defende a tese intitulada Tratado de Direito Natural, dedicada ao Marquês de Pombal. 
Retorna ao Brasil em 1782 para a então cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas Gerais, sendo nomeado ouvidor e juiz. No mesmo ano, conheceu Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, jovem de apenas dezesseis anos, a qual inspirou a composição do conjunto de poemas intitulados Marília de Dirceu sob o pseudônimo pastoril de Dirceu. 
No ano de 1788, pede Maria Doroteia em casamento, porém, a família da jovem, muito tradicional, inicialmente se opôs ao matrimônio e só mudou de opinião com o passar do tempo. 
Tomás Antônio Gonzaga também ficou famoso por sua atuação na Conjuração Mineira, no ano de 1789, na qual vários intelectuais e pessoas influentes se insurgiram contra a monarquia portuguesa e lutavam pela independência da colônia.
Prestes a se casar com Marília, Gonzaga é preso pelo envolvimento na Conjuração e, na cela, escreve grande parte de Marília de Dirceu. O poeta havia começado a obra dedicada à Maria Doroteia ainda antes de ir para a prisão e dá seguimento da mesma enquanto estivera no cárcere, o que explica a mudança drástica de tom no decorrer dos poemas. 
No ano de 1792 é exilado em Moçambique a fim de cumprir sua pena. Naquele país, hospeda-se na casa de um rico comerciante de escravos e, no ano de 1793 contrai matrimônio com a filha dele, Juliana de Souza Mascarenhas, com quem tem dois filhos. Falece no ano de 1810.

Obras
Após o exílio na África, é editada a primeira parte da obra Marília de Dirceu. Publicado inicialmente em três partes nos anos de 1792, 1799 e 1812 (a última após a morte do poeta). Nessa obra, Gonzaga é um pastor abastado que vive os idílios da vida no campo e canta para sua amada Marília e a natureza ao seu redor. Inicialmente, o poeta escreve sobre temas como o amor, a felicidade, a vida com sua amada e os sonhos de uma família. O conjunto de poemas pode ser considerado um monólogo, em que apenas o poeta expressa seus sentimentos. Na prisão, há a mudança de tom em Marília de Dirceu e o poeta passa a refletir sobre justiça e sobre seu destino.

Antes de ir para a prisão, Gonzaga escreve uma série de poemas satíricos em forma de correspondência sob o título de Cartas Chilenas. Nelas, Critilo, um habitante de Santiago do Chile, critica os mandos e desmandos do governador Fanfarrão Minésio. Na realidade, Santiago seria Vila Rica e, seu governador, Luís da Cunha Meneses (então governador de Minas Gerais). Além disso, endereça as cartas para Doroteu, que era, na realidade, o também poeta árcade Claudio Manoel da Costa.


Fonte: http://www.soliteratura.com.br/biografias/biografias005.php

sábado, 29 de outubro de 2016

XIII soneto de Cláudio Manoel da Costa

Nise? Nise? onde estás? Aonde espera
Achar-te uma alma, que por ti suspira,
Se quanto a vista se dilata, e gira,
Tanto mais de encontrar-te desespera!

Ah se ao menos teu nome ouvir pudera
Entre esta aura suave, que respira!
Nise, cuido, que diz; mas é mentira.
Nise, cuidei que ouvia; e tal não era.

Grutas, troncos, penhascos da espessura,
Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde,
Mostrai, mostrai-me a sua formosura.

Nem ao menos o eco me responde!
Ah como é certa a minha desventura!
Nise? Nise? onde estás? aonde? aonde?


Análise: Uma das características do arcadismo pode ser percebida nesse texto, que é a idealização da mulher amada. Esse movimento literário valoriza a vida simples e do campo, os seus autores desenham através de seus textos a imagem da Arcádia, lugar onde as pessoas viveriam vidas simples, ligadas à natureza, longe das má influências que assolavam a vida urbana. Ou seja, evocavam uma vida "pura". O XIII soneto de Cláudio Manoel não faz referência à natureza diretamente, mas a idealização da mulher procurada pelo eu lírico é consistente com as características da literatura arcadista. Um exemplo não tão óbvio é que o nome Nise é de origem latina e significa "pura". Um movimento que constrói a imagem de que a vida ideal é a vida no campo não poderia construir outra imagem da mulher ideal senão a da mulher pura e formosa.

Outros sonetos de Cláudio Manoel da Costa estão disponíveis em:
http://www.avozdapoesia.com.br/obras_ler.php?obra_id=16746&poeta_id=397

II soneto de Cláudio Manuel da Costa

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"Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
Em meus versos teu nome celebrado;
Por que vejas uma hora despertado
O sono vil do esquecimento frio:
Não vês nas tuas margens o sombrio,
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.
Turvo banhando as pálidas areias
Nas porções do riquíssimo tesouro
O vasto campo da ambição recreias.
Que de seus raios o planeta louro
Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro."

álamo copado: s.m. Árvore, geralmente alta, tronco reto e folhas ovais, lanceoladas. (Família das salicáceas.) O mesmo que choupo.

Análise: Cláudio Manuel da Costa nasceu na atual cidade de Mariana, que é cortada pelo Rio do Carmo e foi uma das maiores produtoras de ouro do Império Português. O arcadismo se diferencia do barroco por ser menos complicado e exagerado, e é exatamente isso que vemos nesse texto que descreve uma paisagem campista, rural, colocando o Rio do Carmo no centro do poema. O eu lírico fala da degradação do Rio pela exploração do ouro, colocando em contraste a ideia de que o campo é o melhor lugar para se viver e o progresso proporcionado pela metrópole. 

Cláudio Manoel da Costa (1729 – 1789)

Nasceu na cidade de Ribeirão do Carmo (hoje Mariana), em Minas Gerais, no ano de 1729. Aos vinte anos foi a Portugal para estudar Direito na faculdade de Coimbra, dividindo as obrigações do curso com a produção literária. Depois de terminada a faculdade, retorna ao Brasil onde exerce a função de advogado na então cidade de Vila Rica (hoje Ouro Preto).
Em Minas Gerais ajudou a fundar a Arcádia Ultramarina com os poetas com Manuel Inácio da Silva, Silva Alvarenga e Tomás Antônio Gonzaga entre outros poetas e intelectuais. Adotou, no ano de 1773, o pseudônimo de Glauceste Satúrnio, sob o qual escreveu a maioria de suas poesias. 
Inspirados pelo pensamento iluminista, os integrantes da Arcádia desenvolveram uma conspiração política contra o governador da capitania, culminando na Conjuração Mineira. Por essa época, sua poesia adquire um tom político e o poeta se mostra preocupado com diversas questões políticas e sociais. O movimento levou seus membros à prisão, sob acusação de lesa-majestade, isto é, de traição ao rei de Portugal. 
Por seu envolvimento na Conjuração Mineira, o poeta foi encontrado morto em sua cela no ano de 1789. A causa da sua morte ainda não foi esclarecida e alguns historiadores acreditam que ele tenha sido morto a mando do Governador, outros, que ele haveria cometido suicídio.
Anos mais tarde, ao final do século XIX, como homenagem, Claudio Manoel da Costa foi escolhido o Patrono da cadeira de número oito da Academia Brasileira de Letras.

Obras
Claudio Manoel da Costa é considerado o primeiro poeta do movimento árcade brasileiro, embora ainda apresente características barrocas em toda a sua obra, principalmente no que diz respeito ao estilos cultista e conceptista utilizados, compondo poemas perfeitos na forma e na linguagem. Por isso, costuma-se dizer que Claudio Manoel da Costa é um poeta de transição entre o barroco e o arcadismo. Além disso, seus poemas têm influência dos versos camonianos.
O início do movimento árcade na literatura brasileira tem como marco a publicação de sua coletânea de poemas intitulada Obras (1768). Diferentemente da produção poética anterior, Claudio Manoel da Costa prioriza o retrato da natureza como um local de refúgio dos problemas da vida urbana, onde o poeta/pastor pode desfrutar da vida rural.
Seus temas giram em torno de reflexões morais e das contradições da vida, além de ter escrito um poema épico, Vila Rica, no qual exalta o bandeirantes, exploradores do interior do país além, é claro, da fundação da cidade de mesmo nome.
Fonte: http://www.soliteratura.com.br/biografias/biografias004.php

sábado, 22 de outubro de 2016

Questões de Vestibular - Barroco

1 - ENEM 2014 

"Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela Alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
o Faraó do povo brasileiro."
(DAMASCENO,  D. Melhores  poemas: Gregório de  Matos. São Paulo: 2006)

Com uma  elaboração de   linguagem e uma visão  de  mundo  que  apresentam  princípios barrocos, o   soneto de  Gregório de  Matos apresenta  temática expressa  por:
(A) visão cética  sobre as relações  sociais.
(B) preocupação com  a identidade  brasileira.
(C) crítica  velada à forma de governo  vigente.
(D) reflexão sobre dogmas do  Cristianismo.
(E) questionamento das  práticas  pagãs  na Bahia.

Resolução e comentários (por Pedro Henrique):
Para resolver essa questão o candidato deve se lembrar de algumas características de Gregório de Matos, porque vale lembrar de seu contexto histórico em que ocorreram várias coisas, então ele buscava sempre em seus textos criticar alguma realidade da época, envolvendo seus textos de um cultismo, com figuras de estilo como a metáfora presente não somente no texto acima mas também em vários outros. Portanto temos que nos recordar de algumas características desse autor para resolvermos a questão, mas além disso também é de suma importância  a leitura com calma da questão para uma correta interpretação do texto, porque só com esses requisitos que conseguiremos perceber a crítica que Gregório faz ao governo, utilizando de uma metáfora que no começo aparenta ser confusa mas que principalmente no final que diz: 
"Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estripar desta cidade o Faraó do povo brasileiro.", que torna bem clara a crítica do autor, e que elimina todas as demais possibilidades de respostas. Logo então a letra C, será a correta.

2 - VUNESP 

      Ardor em firme coração nascido;
      pranto por belos olhos derramado;
      incêndio em mares de água disfarçado;
      rio de neve em fogo convertido:
      tu, que em um peito abrasas escondido;
      tu, que em um rosto corres desatado;
      quando fogo, em cristais aprisionado;
      quando crista, em chamas derretido.
      Se és fogo, como passas brandamente,
      se és fogo, como queimas com porfia?
      Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
      Pois para temperar a tirania,
      como quis que aqui fosse a neve ardente,
      permitiu parecesse a chama fria. 

O texto pertencente a Gregório de Matos apresenta todas as seguintes características:
a) Trocadilhos, predomínio de metonímias e de símiles, a dualidade temática da sensualidade e do refreamento, antíteses claras dispostas em ordem direta.

b) Sintaxe segundo a ordem lógica do Classicismo, a qual o autor buscava imitar, predomínio das metáforas e das antíteses, temática da fugacidade do tempo e da vida.

c) Dualidade temática da sensualidade e do refreamento, construção sintática simétrica por simetrias sucessivas, predomínio figurativo das metáforas e pares antitéticos que tendem para o paradoxo.

d) Técnica naturalista, assimetria total de construção, ordem direta inversa, imagens que prenunciam o Romantismo.

e) Verificação clássica, temática neoclássica, sintaxe preciosista evidente no uso das antíteses, dos anacolutos e das alegorias, construção assimétrica.

Resolução e comentários (por Gabriel Robert): 

A poesia deixa evidente o dualismo barroco usado por Gregório de Matos ao falar de temas opostos por meio de metáforas. Isso fica claro já nos primeiros versos, "incêndio em mares de água disfarçado / rio de neve em fogo convertido", quando o autor mistura incêndio e água e neve e fogo. Assim, também podemos concluir que todas essas contraposições são metáforas, pois na prática são impossíveis de acontecer. Nos últimos versos desse texto, podemos perceber a presença de paradoxos, que são construídos desde o início. Logo, a alternativa correta é a letra C. 

3 - (UFRS) 

Com relação ao Barroco brasileiro, assinale a alternativa incorreta.
a) Os Sermões, do Padre Antônio Vieira, elaborados numa linguagem conceptista, refletiram as preocupações do autor com problemas brasileiros da época, por exemplo, a escravidão.

b) Os conflitos éticos vividos pelo homem do Barroco corresponderam, na forma literária, ao uso exagerado de paradoxos e inversões sintáticas.

c) A poesia barroca foi a confirmação, no plano estético, dos preceitos renascentistas de harmonia e equilíbrio, vigentes na Europa no século XVI, que chegaram ao Brasil no século XVII, adaptados, então, à realidade nacional.

d) Um dos temas principais do Barroco é a efemeridade da vida, questão que foi tratada no dilema de viver o momento presente e, ao mesmo tempo, preocupar-se com a vida eterna.

e) A escultura barroca teve no Brasil o nome de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que, no século XVII, elaborou uma arte de tema religioso com traços nacionais e populares, numa mescla representativa do Barroco.

Resolução e comentários de Felipe Silva Matos:
A resposta correta é a letra C. Como estudamos, a literatura barroca é marcada pelo conflito, oposição, e até contradição, o que é muito diferente do que é mostrado na alternativa C, que afirma que o Barroco surgiu como um estilo caracterizado pela harmonia e pelo equilíbrio. Vemos a todo instante que os escritores barrocos fazem críticas aos acontecimentos da época. Por isso, a única afirmação incorreta é a C, que é a alternativa correta.




4. (FEI)
“Em tristes sombras morre a formosura, em contínuas tristezas a alegria”
Nos versos citados acima, Gregório de Matos empregou uma figura de linguagem que consiste em aproximar termos de significados opostos, como “tristezas” e “alegria”. O nome desta figura de linguagem é:
a) metáfora
b) aliteração
c) eufemismo
d) antítese
e) sinédoque
Resposta: D
Resolução e comentário por: João Vitor 
Antítese é uma característica marcante em textos do barroco, ela é caracterizada pelo uso de dois termos que diferencem entre si. É um recurso linguístico facilmente encontrado em textos do barroco, até porque nos texto do barroco uma característica fundamental é o jogo de ideias e alguns autores usam o jogo de ideias para acrescentar antítese, que possibilita maior ênfase, como foi apresentado no início da questão.